A antiga angioplastia transluminal coronária percutânea por balão (ATC) revolucionou a revascularização coronariana. No entanto, o reconhecimento das limitações da ATC, incluindo a dissecção de vaso, o recoil elástico, o remodelamento negativo e a hiperplasia intimal, levou ao desenvolvimento de stents coronários. Embora os stents metálicos tenham abordado com sucesso as complicações agudas de dissecção de vaso, bem como os problemas de recoil elástico e remodelamento negativo, eles não tiveram impacto na hiperplasia intimal e geraram um novo problema clínico – reestenose intra-stent (RIS). Os stents farmacológicos (SF) melhoraram drasticamente os resultados clínicos dos pacientes submetidos à intervenção coronária percutânea (ICP), ao reduzirem o risco de RIS e de nova revascularização. No entanto, a trombose tardia do stent e a reestenose recorrente, com risco de cerca de 2% ao ano após o implante, continuaram a preocupar e levaram à inovação dos balões farmacológicos (BF). A lógica por trás da tecnologia dos BF é uma terapia combinada de balão e fármaco para tratar lesões coronárias, que elimina a trombose do stent e atinge taxas mais baixas de reestenose, sem requerer o implante de uma plataforma metálica. Embora sua eficácia e segurança tenham sido comprovadas tanto para RIS quanto para doença de vasos nativos de pequeno calibre, há outras indicações emergentes (por exemplo: lesões de bifurcação, doença de grandes vasos, doença difusa, alto risco de sangramento e síndrome coronariana aguda).
Esse dispositivo não apenas atende às necessidades específicas da vascularização coronária, mas também existe um grande potencial para seu uso em outros territórios e estruturas vasculares não coronarianas, incluindo o tratamento de doenças valvares, cardíacas congênitas e que demandam procedimentos neurointervencionistas.
MECANISMO DE AÇÃO DOS BALÕES FARMACOLÓGICOS
A extensa pesquisa inicial para desenvolver a entrega local de fármacos na parede do vaso encontrou resultados clínicos insatisfatórios, devido à variabilidade de absorção e ao rápido washout das drogas estudadas. O interesse por um sistema de liberação local de fármacos não baseado em stent foi reativado com o surgimento de sirolimus e paclitaxel, ambos fármacos lipofílicos absorvidos rapidamente pelo tecido arterial. Os principais elementos dos BF são a plataforma do balão, o medicamento, o excipiente e o processo de revestimento do balão. Uma vez que o balão é inflado, ocorre transferência aguda da droga quase imediatamente da superfície do balão para a parede arterial, na qual a maior parte se liga aos locais de ligação hidrofóbica, com menor quantidade sendo transportada por difusão e convecção.3-6 Os fatores que impactam a eficiência de trans- ferência incluem as propriedades físico-químicas inerentes ao fármaco, o processo de fabricação e revestimento e a presença de excipientes. Os excipientes aumentam a capacidade de transferência do fármaco, neutralizam sua capacidade hidrofóbica e, assim, permanecem na superfície do balão. O fármaco antiproliferativo aplicado ao BF tem sido tradicionalmente o paclitaxel, embora desenvolvimentos recentes nos BF tendem a usar fármacos da “família limus”, devido à citotoxicidade do paclitaxel. O paclitaxel continua sendo a droga de escolha, com dose típica entre 2ug/mm2 e 3,5ug/mm2 na superfície do balão. A formulação de revestimento e a técnica do procedimentode revestimento permitem transferência exitosa do fárco, resultando em diferentes perfis farmacocinéticos. Desse modo, a interação entre doses, formulações, cinética de liberação e lesões parece ser crucial para a resposta vascular após o tratamento com BF. É importante notar que não há evidências de um “efeito de classe” entre as diferentes plataformas.